18 junho 2013

VIOLÊNCIAS E MOBILIDADE URBANA

Artigo publicado no jornal Correio Popular em 18 de junho de 2013.

Rafael Moya



VIOLÊNCIAS E MOBILIDADE URBANA


Novamente a pauta do transporte público vem a tona. Sejam pelas manifestações na cidade de São Paulo, seja pela redução da tarifa em Campinas. A discussão deve ser mais profunda do que tarifas e “vândalos”. A questão que os habitantes, de qualquer cidade média ou grande enfrentam, cotidianamente, é a da mobilidade urbana.



Segundo a matéria do Correio Popular de 13 de junho, em menos de cinco horas, os vereadores realizaram uma audiência pública e votaram a autorização para que a prefeitura financie 444 milhões de reais para a implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transit). A pergunta que fica no ar é: qual foi a publicidade dessa audiência “pública”. Como um tema da maior relevância é tratado “a toque de caixa” pelos nobres edis? Se fossem perder algum tipo de prazo, porque não fizeram essa discussão antes com a sociedade garantindo assim a moralidade do processo?

Investimentos em transporte público não são a regra, pois em geral têm servido apenas para estimular ainda mais o transporte motorizado individual, como por exemplo, a redução de IPI para carros e motos realizado por Lula e mantido por Dilma. É só observarmos ainda que os investimentos em infraestrutura viária de Campinas são muito maiores do que em transporte público.

O custo social desse modelo de mobilidade urbana irracional é maior quando tratamos das questões de saúde pública e ambientais. São 60 mil mortes anuais no trânsito brasileiro sem contar a imensa ocupação do SUS por vítimas de acidentes no trânsito. Na questão ambiental, a Organização Mundial de Saúde, já alertou que a qualidade do ar da Região Metropolitana de Campinas é pior que a da Grande São Paulo, a maior parte dela decorrente das fontes móveis (veículos).


Neste bojo, a cidade foi surpreendida com o anúncio pelo prefeito Jonas de que reduzirá a tarifa do transporte público em 10 centavos.  Segundo outra matéria do Correio Popular também de 13 de junho, o prefeito alega que não atenderá ao pleito de aumentar o subsídio repassado aos empresários, que, segundo a lei orçamentária deste ano, prevê até 40 milhões de reais em repasses às empresas. Se o prefeito cumprir o prometido, de contratar uma empresa para realizar uma auditoria nas tarifas, permitindo também controle social desse levantamento, perceberá que a tarifa pode (e deve) reduzir ainda mais. Esta redução anunciada evidencia a total inconsistência na definição das políticas tarifárias, porém é uma sinalização importante de que as coisas podem ser diferentes.

O verdadeiro flagelo social que vivemos por conta da imposição de um modelo baseado no carro e na moto, é uma profunda violência a todos. Um transporte caro, desconfortável e ineficiente violenta cotidianamente os usuários e toda a sociedade.  O prefeito tem a oportunidade de, com a mudança substancial que o BRT trará ao sistema de transporte público e com essa redução de tarifa, de convocar setores da sociedade para criar uma comissão para investigar os reais custos do transporte público e fazer propostas para a redução das tarifas. Cidades do mundo que avançaram em um modelo de priorização do transporte coletivo tiveram que alterar a lógica da definição dos preços, desmercantilizando a discussão, buscaram ainda uma redefinição da ocupação urbana, tornando a cidade um lugar mais democrático.


Um transporte melhor interessa à esmagadora maioria das pessoas. Até mesmo aos que fizerem questão de continuar a usar carro ou moto cotidianamente, pois terão uma rua mais livre e sem tantos congestionamentos, além de um ar melhor para respirar. Para aqueles que ousam sair do aperto e das demoras dos ônibus e reivindicam melhorias e preços justos, cabe a pergunta: como fazer para que a sociedade apoie a reivindicação, já que, em regra, as políticas públicas vêm no sentido contrário? Esse é o grande desafio já que os que ganham com esse sistema atual de coisas atuam de maneira eficiente e subvertem pautas e lutas legítimas. Com ou sem manifestações de rua, a depredação socioambiental acontece diariamente com esse modelo de mobilidade urbana que temos. Os fatos demonstram que o trânsito caótico em nossas cidades é causado pelas opções políticas de nossos governantes, e as vítimas somos todos nós. Segundo o ex-prefeito que introduziu os BRT´s em Bogotá, Enrique Peñalosa, em 1998, “Mobilidade é uma questão política. Os aspectos técnicos são fáceis de resolver. Difícil é escolher, politicamente, quem será beneficiado.”

Rafael Moya

Advogado, presidente do COMDEMA Campinas e mestrando em Engenharia Urbana pela UFSCAR

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