Artigo publicado originalmente no jornal Correio Popular.
MAJESTOSA CAMPINAS
por Rafael Moya

Primeiramente, uma discussão como esta, não poderia ter ficado restrita à diretoria da Ponte Preta e aos conselheiros do Condepacc. O Majestoso é hoje um patrimônio cultural de Campinas, de todos os campineiros, pontepretanos ou não. Construído com o esforço e pelas mãos de inúmeros torcedores, este estádio possui alma, e é um grande orgulho para os pontepretanos e para Campinas. Hoje ele está totalmente integrado ao bairro, cumpre uma tarefa de melhora na qualidade de vida da região. As prováveis obras que serão realizadas no local trarão enormes impactos negativos para todo o entorno. Com altos edifícios, os problemas de mobilidade por conta do trânsito e no clima da região serão inevitáveis.
A justificativa para a venda seria a suposta construção de uma Arena no Jardim Eulina, que também poderá trazer impactos negativos àquela região. Segundo a urbanista Raquel Rolnik: “Em lugar nenhum do mundo, grandes estádios atraem grande densidade de usos e investimentos em seu entorno. Muito pelo contrário – no mais das vezes, acabam gerando uma zona morta ao seu redor, já que ocupam grandes áreas, exigem grandes espaços de estacionamento e áreas de escape e, assim, bloqueiam a urbanidade.” Ainda que se argumente que é impossível haver um grande time sem um “grande” estádio, é só notarmos que a Vila Belmiro, do Santos de Pelé, casa do atual campeão da Libertadores, possui uma capacidade de público próxima da que possui o Majestoso.
Mais uma vez o Condepacc se apequena diante de suas funções. Além das diversas agressões que o patrimônio cultural de Campinas vem sofrendo, com a ação ou omissão deste Conselho, agora autoriza a destruição do estádio Moisés Lucarelli. O que está em discussão não são tijolos e concretos, e sim história. O Majestoso não é sua fachada, e sim sua totalidade, física e histórica. E a história também deveria ser protegida pelo Condepacc. Campinas não pode sucumbir diante das pressões de um mercado imobiliário, ocasionalmente aquecido. Se permitirmos que os interesses da especulação imobiliária leve nossa história, estaremos nos apequenando ante as gerações passadas e futuras. O que seria do Coliseu em Roma se, por conveniências econômicas, quisessem deixar apenas sua fachada em pé?
Em um momento onde a cidade passa por momentos muito difíceis, onde a população sente-se saqueada, não podemos nos calar perante mais um ataque à nossa história. Não destruam o Majestoso. Ainda está em tempo de resgatarmos nossa Campinas. É hora de resgatarmos a Majestosa Campinas.
Rafael Moya
Advogado, mestrando em Engenharia Urbana e Conselheiro do Comdema (Conselho Municipal de Meio Ambiente de Campinas)