PARA QUE SERVE UMA LEI
ORÇAMENTÁRIA?

Na última sexta-feira, os
vereadores votaram, e aprovaram, a Lei Orçamentária Anual para o ano de 2013.
Poucas pessoas sabem, mas o Poder Legislativo no Brasil, seja ele de âmbito
municipal, estadual e federal tem a prerrogativa de discutir, ajustar e aprovar
os gastos que o Poder Executivo fará. São três as leis que tratam de orçamento:
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Plano Plurianual (PPA) e Lei
Orçamentária Anual (LOA).
Nestas leis, chamadas peças
orçamentárias, especialmente na LOA, os parlamentares deveriam indicar o quanto
seria gasto em saúde, educação, cultura, meio ambiente, segurança etc. Por meio
das chamadas rubricas, eles têm o dever de analisar, em detalhes, o quanto
seria destinado para cada área, quais obras prioritárias, investimentos etc.
Nossa Constituição Federal garante este direito ao Poder Legislativo por
entender que ele seria o Poder mais democrático, representante das diversas
matizes da sociedade, palco do debate, do diálogo e da transparência. Como
vivemos em um Estado Democrático de Direito, e sendo a LOA uma lei, os chefes
do Poder Executivo seriam obrigados a cumprirem.
Como os políticos brasileiros,
salvos raras e honrosas exceções, têm pouco apreço pela transparência, diálogo
e participação popular, a praxe é “driblar” as leis orçamentárias. Uma tática
para isso é o que foi feito em Campinas, mais uma vez, este ano. O prefeito
enviou uma proposta de lei orçamentária concentrando em seu gabinete enorme
parcela dos recursos. O objetivo, provavelmente, é o de poder usar estes recursos
como bem lhe aprouver. A efeito de ilustração, a Secretaria de Meio Ambiente,
novamente, é a secretaria que menos recebe recursos. Isso é particularmente
grave considerando os enormes desafios que a cidade enfrenta e enfrentará, como
um mercado imobiliário aquecido, ampliação de Viracopos entre tantas outras
áreas nevrálgicas para a cidade. A proposta apresentada possui várias coisas
que seriam cômicas se não fossem trágicas, como por exemplo, a destinação de R$
1.500,00, para ampliação de áreas verdes do município, isso mesmo, mil e
quinhentos reais. O próprio prefeito sabe, e os vereadores também, que este
valor não dará para ampliar nem o jardim da casa deles. No caso do Conselho Municipal de Meio
Ambiente, a prefeitura teria a obrigação, por lei, de incluir uma rubrica para
o conselho. Sequer o fez.
Mas isto não seria o fim do mundo
se os vereadores cumprissem sua função de chamarem a sociedade para o diálogo.
Realizassem audiências públicas, debates e fizessem emendas ao orçamento. Eles
possuem a prerrogativa de tirar dinheiro do gabinete e indicar para onde eles,
juntamente com a sociedade, achassem necessário. Assim, por ser uma lei, o
prefeito seria obrigado a acatar, realizando os gastos e investimentos
previstos. Transformariam o Legislativo em um espaço de discussão, formulação e
elaboração de políticas públicas. Porém não foi isso que a Câmara fez. Como
demonstra a matéria do Correio Popular de 15 dezembro de 2012, os vereadores
aprovaram uma única emenda.
O legislativo campineiro deu mais
uma demonstração de que continua a ser uma mero despachante dos desejos do
Executivo. Isto é grave pois dá plenos poderes a outro Poder, esvaziando assim
o que determina a Constituição Federal. Os vereadores se escondem atrás de pareceres
de comissões e de procuradorias e não têm a coragem de mostrarem suas reais
intenções. Quem é da área jurídica sabe que estes pareceres, de qualidade
técnica e imparcialidade duvidosos, orientam e não obrigam os nobres
parlamentares. Ao procederem desta maneira, colocando-se no papel de meros
despachantes das vontades do prefeito, os vereadores prestam um desserviço à
construção de uma sociedade transparente, justa, sustentável e democrática.
No próximo ano, teremos uma
Secretaria de Meio Ambiente fragilizada, em que pese os esforços hercúleos dos
servidores. Isto trará problemas para o setor empresarial e para a toda a
cidade. Continuaremos a viver numa cidade que se gaba de ser um pólo de alta
tecnologia, mas que não possui políticas públicas sérias de nenhuma ordem. O
novo governo precisa mostrar a que veio, pois os nobres edis continuam
esforçando-se para transformar Campinas em Sucupira. De nossa parte
continuaremos, mesmo sem recursos, fiscalizando e colaborando na formulação de
políticas públicas para nossa cidade, apesar dos nossos vereadores. Um 2013
justo e sustentável a todos!
Rafael Moya
Advogado e Presidente do Conselho
Municipal de Meio Ambiente de Campinas (COMDEMA)